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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Programa de qualificação quer superar déficit de 20 mil costureiras em Minas

A indústria da moda está chegando à periferia de Belo Horizonte para formar costureiras que possam sanar um déficit de mão de obra de 20 mil profissionais do setor no estado. Para isso, pretende levar escolas de costura a comunidades carentes como Aglomerado da Serra e Barragem Santa Lúcia, na Região Centro -Sul da capital, Vila Cemig e Vila Independência, no Barreiro, Vila São José, na Região Nordeste da cidade, e Morro das Pedras, na Região Oeste. O desafio é resgatar a profissão, formar pessoal e oferecer trabalhadores minimamente qualificados para a indústria de confecção. A situação do setor é tão grave, que o presidente da Citerol, fabricante de uniformes industriais, René Wakil Júnior, reconhece que se 20 costureiras batessem hoje à porta de sua empresa, seriam contratadas de uma só vez.

“A falta de mão de obra não atinge só o setor do vestuário, é um problema que as empresas brasileiras estão vivendo de um modo geral. Mas as costureiras deixaram sua atividade para se dedicar a outras profissões”, explica. Essa é a primeira vez que a iniciativa privada se une às empresas e ao poder público com o objetivo de treinar profissionais que terão grandes chances de ser absorvidas pelo mercado de trabalho. O fruto dessa união ganhou o nome de Economia do Território, que pretende levar as demandas das empresas às escolas profissionalizantes de costura nas periferias, de modo a suprir objetivamente a demanda por mão de obra.

Na Vila Cafezal, no Aglomerado da Serra, o grupo Meninas do Cafezal trabalha diariamente na sede da associação comunitária local para formar bordadeiras. Hoje, elas reúnem 24 mulheres de nove a 56 anos e produzem artigos bordados com a ajuda de voluntárias da Igreja Católica. Segundo a coordenadora da cooperativa, Vera Lúcia Severiano Veloso, as jovens da região não querem saber da profissão. Ela acredita, no entanto, que se houvesse uma escola de costura mais estruturada na Vila, com máquinas à disposição das estudantes e professores capacitados, as meninas se sentiriam mais atraídas. “Se fosse no próprio bairro, elas se interessariam mais. Os gastos com passagem e alimentação atrapalham. E além disso elas têm preguiça de sair para longe do local onde moram”.

Esforço extra Segundo o presidente da Colortêxtil, Flávio Roscoe, a idade das costureiras que trabalham nas confecções de Minas gira em torno dos 45 anos. “As meninas não se interessam pela profissão. Preferem ser operadoras de telemarketing ou trabalhar nos caixas dos supermercados. O setor não agregou novas profissionais e, ao mesmo tempo, foi perdendo espaço para a invasão chinesa”, observa. Por isso, segundo ele, será necessário fazer um “esforço extra” para formar costureiras daqui para a frente. E é exatamente daí que vem a ideia de aproximar as escolas de costura das comunidades carentes.

“A gente sabe que o empresário precisa de mão de obra e que tem muita gente na periferia precisando trabalhar”, resume Marta Machado, supervisora do projeto. Hoje, segundo ela, uma costureira experiente pode conseguir rendimentos de R$ 1.200 numa confecção. “O problema é que todo mundo quer o glamour da moda, mas ninguém quer saber de costurar”. Esse tipo de reclamação pode ser ouvido em todos os segmentos ligados à indústria de confecção no Brasil e em Minas. Mudanças de hábito na sociedade e o advento da internet, aliados à dificuldade financeira para bancar os custos de alimentação e transporte durante os cursos, dificultam ainda mais a renovação da mão de obra no segmento.